Por Rafael Broz
Um
dia desses me peguei pensando que casos amorosos, além de uma
relação de afeto, sexo e amizade, são também importantes
referências comportamentais. Relembrando as pessoas com quem tive
algum tipo de relação em minha vida, constatei que
todas possuíam uma característica em comum que a mim
sempre causou estranheza: elas dormiam com o celular
ligado. “Ah, não deixa ligado não”, sempre diz este insone que
desliga o aparelho móvel todas as noites devido ao valor que dá
para cada minuto de descanso. Elas sempre respondem alguma coisa
como: “mas alguém pode ligar”.
É
evidente os enorme avanços tecnológicos conquistados nas
últimas décadas no campo da telecomunicações. Me lembro que
quando criança era necessário o auxilio de uma telefonista para
realizar uma simples ligação para a vizinha, Argentina. Hoje uma
videoconferência em tempo real pode ser feita gratuitamente de
qualquer lugar com um laptop conectado a internet. Email,
Facebook, Twitter, Skype, Google, Instagram, Whatsapp e não sei mais
quantas ferramentas que duas décadas atrás só habitavam os filmes
de ficção e agora, de forma quase natural, já fazem parte de nossa
vida nos conectando a tudo e todos a todo o momento.
Seria
pretensioso da minha parte tentar indicar aqui as implicações
sociológicas da vida online sem um estudo mais aprofundado. O
que exponho são apenas simples observações. É seguro
dizer que o tempo e o espaço, assim como a produção e os afetos,
são envolvidos e transformados por esse fenômeno tão
representativo do século XXI. Não se encontra mais desencontros,
algumas distâncias encurtaram, o controle é mais capilarizado e o
ponto do trabalho tornou-se a bateria do celular.
Vivemos
conectados por ferramentas eletrônicas, é uma realidade
inescapável, mas que tipo de conexões queremos estabelecer?
Convenhamos que existe uma boa diferença entre conversar com um
amigo que mora longe e receber o telefonema do seu chefe num domingo
de manhã. Podemos abrir nossas caixas de e-mail ler uma mensagem de
amor e em seguida um anúncio de um método novo de alongamento
peniano. Quem sabe o que nos espera na próxima mensagem? Estamos
sempre aí para tudo e todos, somos diversas identidades
cibernéticas de fácil acesso e controle.
Longe
de mim querer estabelecer uma apologia a qualquer tipo de
primitivismo ou saudosismo tolo. A luta contra os avanços
tecnológicos do campo da comunicação, além de uma causa perdida,
trata-se da manifestação de uma patologia onde o individuo cria
um passado idealizado que supostamente é ameaçado por esses novos
adventos. A maneira que me parece mais razoável de se lidar com a
questão é nos apropriarmos das infinitas possibilidades positivas e
maximizá-las ao passo que tentamos nos desviar dos efeitos negativos
de toda essa revolução digital. Portanto é necessário questionar
o fenômeno de conexão ilimitada e de superexposição para poder
usufruir das benesses. Eu, por aqui, sigo deixando meu celular
desligado enquanto durmo.