domingo, 12 de outubro de 2014

A eleição brasileira e a América Latina

*Rafael Rezende


Neste outubro de 2014 o mundo inteiro lança seus olhares sobre o Brasil, em especial nossos mais de quinhentos milhões de vizinhos e vizinhas latino-americanos. O resultado do pleito não só decide o futuro político do país como também o de toda a região, que mais uma vez está ameaçada pela ascensão de uma direita que sustenta “relações carnais” com os EUA, como certa vez afirmou, lotado de orgulho, o ex-presidente argentino Carlos Menem. Uma encruzilhada entre o retrocesso a um passado tenebroso e o descompassado caminhar para um futuro repleto de possibilidades se apresenta de forma patente para o Brasil e para a América Latina.

Para pensar a América Latina sob o prisma das eleições é preciso relembrar os anos 1990. Naquela década o neoliberalismo, certamente umas das mais fortes e cruéis ideologias do século XX, possuía uma hegemonia muito mais sólida do que nos dias de hoje e os governos da região a promoviam amplamente. A submissão da política ao capital rentista, o remodelamento do Estado para melhor servir aos interesses das classes dominantes e o individualismo eram a tônica geral daqueles tempos. O resultado dessa combinação foi desastroso: extrema pobreza material e moral.

Na virada do milênio, forjados em distintas lutas e (re)(des) organizações, ascenderam na América Latina uma série de governos - em maior ou menor grau de esquerda - que lograram frear o avanço do neoliberalismo. Hugo Chávez, Evo Morales, Daniel Ortega, Nestor Kirchner, Fernando Lugo, Lula e Rafael Correa são os maiores exemplos dessa esquerda que ousou governar. Tão diversa quanto controversa, ela foi vitoriosa e derrotada muitas vezes, mas, inegavelmente, abriu brechas, promoveu mudanças e acima de tudo fez o que mais se esperava dela: melhorou a vida dos mais pobres.

E o que as eleições brasileiras têm a ver com isso? É preciso lembrar que somos a maior economia e o lar de mais de um terço dos latino-americanos. Nos últimos doze anos os laços econômicos, políticos, sociais e culturais com os países da América Latina, especialmente os da América do Sul, se estreitaram conformando um cenário onde o que acontece aqui reverbera de diversas formas por toda a região.

Os dois projetos de país que estão em disputa são também dois projetos de América Latina. Se por um lado a candidatura petista defende a continuidade da integração regional, da negociação coletiva de acordos internacionais, da política externa independente e do igual respeito a todas as nações, por outro a candidatura tucana propõe a volta de um modelo de alinhamento com os EUA, negociação unilateral de acordos de livre comércio e diminuição das linhas de crédito do BNDES para obras de infraestrutura nos países vizinhos.

Em suma, o que está em jogo é a possibilidade de abrir um flanco substantivo para a retomada do avanço neoliberal sobre a região e a perspectiva de continuidade de projetos de esquerda, que mesmo repleto de limites e contradições, foram vitoriosos no objetivo de minimamente combater os efeitos nefastos do neoliberalismo e transformar este sub continente em um lugar menos desigual. Os que lutamos pela construção da unidade latino-americana, pela democracia, pelo fim da subserviência aos EUA e pelo combate as desigualdades sociais, nesta eleição não podemos hesitar em declarar nosso apoio a Dilma Rousseff.