*Rafael Rezende
Neste outubro de 2014 o mundo inteiro lança
seus olhares sobre o Brasil, em especial nossos mais de quinhentos
milhões de vizinhos e vizinhas latino-americanos. O resultado do
pleito não só decide o futuro político do país como também o de
toda a região, que mais uma vez está ameaçada pela ascensão de
uma direita que sustenta “relações carnais” com os EUA, como
certa vez afirmou, lotado de orgulho, o ex-presidente argentino
Carlos Menem. Uma encruzilhada entre o retrocesso a um passado
tenebroso e o descompassado caminhar para um futuro repleto de
possibilidades se apresenta de forma patente para o Brasil e para a
América Latina.
Para pensar a América Latina sob o prisma das eleições é preciso
relembrar os anos 1990. Naquela década o neoliberalismo, certamente
umas das mais fortes e cruéis ideologias do século XX, possuía uma
hegemonia muito mais sólida do que nos dias de hoje e os governos da região a promoviam amplamente. A submissão da política ao
capital rentista, o remodelamento do Estado para melhor servir aos
interesses das classes dominantes e o individualismo eram a tônica
geral daqueles tempos. O resultado dessa combinação foi desastroso: extrema pobreza material e moral.
Na virada do milênio, forjados em distintas lutas e (re)(des)
organizações, ascenderam na América Latina uma série de governos
- em maior ou menor grau de esquerda - que lograram frear o avanço
do neoliberalismo. Hugo Chávez, Evo Morales, Daniel Ortega, Nestor
Kirchner, Fernando Lugo, Lula e Rafael Correa são os maiores
exemplos dessa esquerda que ousou governar. Tão diversa quanto
controversa, ela foi vitoriosa e derrotada muitas vezes, mas,
inegavelmente, abriu brechas, promoveu mudanças e acima de tudo fez
o que mais se esperava dela: melhorou a vida dos mais pobres.
E o que as eleições brasileiras têm a ver com isso? É preciso
lembrar que somos a maior economia e o lar de mais de um terço dos
latino-americanos. Nos últimos doze anos os laços econômicos,
políticos, sociais e culturais com os países da América Latina,
especialmente os da América do Sul, se estreitaram conformando um
cenário onde o que acontece aqui reverbera de diversas formas por
toda a região.
Os dois projetos de país que estão em disputa são também dois
projetos de América Latina. Se por um lado a candidatura petista
defende a continuidade da integração regional, da negociação
coletiva de acordos internacionais, da política externa independente
e do igual respeito a todas as nações, por outro a candidatura
tucana propõe a volta de um modelo de alinhamento com os EUA,
negociação unilateral de acordos de livre comércio e diminuição
das linhas de crédito do BNDES para obras de infraestrutura nos
países vizinhos.
Em suma, o que está em jogo é a possibilidade de abrir um flanco
substantivo para a retomada do avanço neoliberal sobre a região e a
perspectiva de continuidade de projetos de esquerda, que mesmo
repleto de limites e contradições, foram vitoriosos no objetivo de
minimamente combater os efeitos nefastos do neoliberalismo e
transformar este sub continente em um lugar menos desigual. Os que
lutamos pela construção da unidade latino-americana, pela
democracia, pelo fim da subserviência aos EUA e pelo combate as
desigualdades sociais, nesta eleição não podemos hesitar em
declarar nosso apoio a Dilma Rousseff.