*Por Victor Serebrenick
A
caipira se faz com amor, esterilizado com cachaça, rasgado pela faca afiada,
azedado pelo limão, queimado com gelo, adocicado com o coração. A bebida
nacional é superior às outras misturas alcoólicas; infelizmente a vulgarização
do drinque pela massificação o transforma num gummy de grife de bebedeira; aquele suquinho amargo não é
caipirinha, por isso e por amor à pátria, segue a receita máxima da nossa musa
tupiniquim.
Pinga
branca, sem embalagens muito modernosas de preferência. Escolha limões médios
do tipo taiti com a coloração vibrante. Tenha gelo, muito gelo. Deixe o açúcar
ao lado. Resgate um copo com largo diâmetro e reto. Qualquer coisa pra amassar
e uma bela duma faca sem dentes.
O
limão, metade para copo médio e inteiro para copo cheio, deve ter primeiramente
suas extremidades retiradas pois ali reside muita fibra que azeda nosso
drinque. Corte ao meio e em seguida com dois cortes em formato de ‘v’ retire a
fibra branca do meio em cada lado, corte em pequenos cubos e seguimos.
Meia
porção do limão no copo, mais o bastante de açúcar pra cobri-lo, amasse tudo. Triture
3 cubos de gelo e jogue-os junto com a cachaça, que deve ultrapassar 100% o
nível onde estavam os ingredientes. Amasse de novo.
Mais
uns dois dedos de cachaça, uma camada de açúcar, 3 cubos inteiros de gelo, a
outra metade do limão e, mais uma vez, amasse. Não hesite em colocar mais aguardente
ou gelo pra combinar com seu paladar e fígado, mas lembre que o gelo inteiro serve
para suavizar a bebida derretendo enquanto se bebe e o triturado, para ação
imediata.
Aí
está. Mas, todo gesto deste processo tem de ser feito com carinho. A cachaça
não cai, ela é conduzida. O açúcar é borrifado sem “pedrões”. E o mais
importante, amasse de forma circular, num procedimento quase transcendental com
o fruto, com muito cuidado e sem pressa. Agitar a bebida e trucidar o pobre do
limão é pura covardia.