Por Victor Serebrenick
À medida que nos aproximamos dos megaeventos no Rio de
Janeiro a lista das remoções só aumentam: Vila Autódromo(28 anos de ocupação), Providência(116), Mangueira(33),
Favela do Sambódromo(27), Vila das Torres(53), Belém-Belém(41), Vila Harmonia(102) e a lista
não para mais. Os removidos são os anti-heróis, os marginalizados na marcha do glorioso futuro da cidade, surgem novos todos os dias, os últimos a
terem destaque foram os moradores do Horto, muitos são idosos que nasceram no
local e hoje são chamados de invasores na capa do jornal O Globo.
Nos anos 1960 no bairro do Maracanã, nas cercanias dos finados Museu do
Índio e estádio Mário Filho, onde hoje está a UERJ havia uma comunidade chamada
Favela do Esqueleto, lá habitava um malandro de currículo, chamado Cara de
Cavalo. Traído pelo bicheiro foi perseguido por um grupo clandestino de
policiais, após matar o delegado na tentativa de fuga acabou criando um dos
mais notórios grupos de extermínio em torno da sua morte.
O marginal não podia sobreviver, com mais de cem disparos foi
esburacado pela Scuderie Le Cocq, sendo ele a primeira vítima deste esquadrão de
extermínio que chegaria a ter alcance nacional e sete mil membros, tudo isso com apoio do regime militar; em São Paulo, o líder do grupo se transformou no mais temido torturador do regime, o delegado Fleury; e foi um de seus
presidentes, o delegado e deputado Sivuca, que cunhou a frase “Bandido bom é
bandido morto”, que segue “e enterrado em pé pra não ocupar muito espaço”.
A febre remocionista nos anos 60 foram iniciadas no governo de Carlos Lacerda e passou pela Praia do Pinto e Catacumba, além dos 495 barracos Favela
do Esqueleto, cujas famílias foram espalhadas pelo subúrbio e zona oeste da cidade:
“Muitas pessoas eu nunca mais encontrei. Naquela época, tinha o malandro, o jogo de roda, ninguém na favela conhecia a cocaína. O clima era muito tranqüilo” Dilmo, ex-morador.
Seu colega e contemporâneo das quadras
da Mangueira, Hélio Oiticica usou a imagem impactante do cadáver para
produzir a "Homenagem à Cara de Cavalo" e
depois o poema-bandeira à seu amigo Seja Marginal, Seja Herói. A sociedade descrita por Oiticica através de suas obras
marginaliza e mata seus cidadãos, o anti-herói é aquele que deve ser varrido
para debaixo do tapete.
Oiticica e o bólide "Homenagem à Cara Cavalo" |
"Seja Marginal, Seja Herói", de Hélio Oiticica |
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