Por Rafael Broz
Levantou
às 5:00, comeu apressada um pão com manteiga e tomou um café quente
para acordar. Deu comida e vestiu as crianças para deixa-las na casa
da vizinha, que recebe um dinheirinho para levar e buscar elas na
escola. O uniforme de trabalho já estava passado desde a noite
anterior. Ela mesma passou enquanto assistia as notícias no Jornal Nacional. O vestido iria amassar durante o percurso de uma hora no
trem lotado.
-Bom dia, Seu Eduardo.
-Bom dia.
Ela
odiava o jeito que ele todo dia olhava para a sua bunda apertada no
uniforme justo que é obrigada a usar. O Seu Eduardo era nojento,
achava que estava acima de tudo e de todos. O que mais a irritava era
o fato de ele se achar um cara legal, um bom patrão ou “um homem
de bem”, como ele costuma dizer.
O dia transcorreu normalmente com ela sendo bestializada durante horas de atividades repetitivas e desinteressantes, até que algo ela fez errado e o Seu Eduardo, muito irritado, retrucou:
-Puta que pariu, preto quando não caga na entrada, caga na saída!
Era
impossível não se sentir profundamente humilhada, mas de tantas
vezes escutar afirmações como essa ela quase já se convencia da
veracidade. Às vezes a vontade era de cuspir na cara do Seu Eduardo.
O salário dela não representava um décimo do dele, ele é branco,
tem amigos importantes, tudo que ela podia fazer era aceitar calada.
Aquele salário era imprescindível para criar os filhos com mínima
dignidade.
Após
mais uma hora sendo amassada no sacolejo do trem, enfim chegou em
casa e encontrou as crianças. Só faltava cozinhar a janta, dar
banho na meninada e botar para dormir. Só então ela pôde passar o
uniforme e assistir o Jornal Nacional.
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