domingo, 26 de maio de 2013

Com Zizek, nem casamento, nem divórcio




*Por Rafael Broz


Em meados da década de 1960 Che Guevara foi questionado sobre como estava sua relação com Fidel Castro: “com Fidel, nem casamento, nem divórcio”, disse o argentino, que aquela altura começava a perceber os primeiros sinais de sovietização da revolução cubana, ao passo que se encantava com as notícias que chegavam sobre experiência chinesa. Talvez a frase de Che seja a mais adequada para definir minha atual relação com o filosofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek.

Casado com Marx, de caso com Lacan e apaixonado por Hegel, Zizek há algum tempo está na moda. Diferentemente do habitual para um filosofo, quanto mais um marxista, seu nome é visto com mais frequência nos grandes meios de comunicação do que na academia. O professor do Instituto de Sociologia e Filosofia da Universidade da Liubliana tornou-se uma espécie de rock star rebelde que encanta multidões de jovens outrora desinteressados pelos ideais revolucionários dos velhos comunistas. Por outro lado desperta a ira, o desprezo e talvez a inveja de muitos colegas que o acusam de repetitivo e totalitário, entre outras coisas.

De certo, Zizek, dono de uma produção acadêmica considerável em se tratando de quantidade, é extremamente repetitivo em seus temas e metáforas. Seu profundo apego a uma visão de modernidade tradicional, que para muitos já se transformou e para outros nem existe mais, também é fortemente questionável. No entanto seus críticos realmente acertam em cheio quando apontam a total ausência de uma mínima descrição em sua teoria de algum sujeito revolucionário. 

 Zizek também é um personagem, cuja a característica principal é ser um polemista, o que incomoda alguns, encanta a outros e atrai muitos holofotes. De comportamento grotesco, aparência desleixada e hábitos obsessivos, o filosofo gosta mostrar ao mundo que tem um quadro de Stalin na pendurado na entrada de casa e proferir frases como “Gandhi era mais violento do que Hitler”. Na vida acadêmica também gosta de alimentar polêmicas: Antonio Negri, Judith Butler e Ernesto Laclau são suas vitimas prediletas de ataques em longos e interessantes debates. 

Não é só de polêmica, obsessões e metáforas repetidas vive o filosofo. Algumas de suas qualidades devem ser observadas para poder entender o fenômeno que cerca seu nome. Seus livros são de leitura envolvente e vocabulário simples, acessível a qualquer um minimamente familiarizado com as ciências sociais. É uma escolha interessante em contraposição ao academicismo elitista de alguns autores que parecem escrever unicamente para seus pares. A cultura pop, tão renegada pelos marxistas tradicionais, é mais do que presente, é fundamental para a teoria de Zizek, um cinéfilo de carteirinha. Sem dúvida o pensamento marxiano ganhou alguns holofotes graças ao trabalho do esloveno.

Por falar em teoria, não são muito profundos ou originais os temas abordados pelo filosofo, mesmo assim são de grande importância para a esquerda. Em tempos de consenso liberal, Zizek gasta boa parte da sua obra denunciando a farsa do liberalismo político, que jamais cumpriu o que prometeu. Outro tema que permeia suas análises é a crítica voltada às lutas culturais que abandonam a luta anti sistêmica.  Frente a isso ele nos convida a repetir Lenin, acreditar que é possível derrotar o capitalismo – Sistema esse que, segundo Zizek, já está morto; bastaria todos se darem conta disso – ter a ousadia de tentar construir o comunismo. 


Gênio, louco, fascista ou uma farsa, cada um tem uma opinião sobre Zizek. Enquanto isso, seus livros vendem que nem água, sua conta bancária cresce e até personagem de filme ele já virou. Ao mesmo tempo ele não foge da militância: na Grécia esteve durante as eleições para apoiar firmemente o Syriza (coalização de esquerda que é a principal oposição ao governo e a troika) e em Wall Street leu uma carta de solidariedade e incentivo ao movimento de ocupação que lá estava em 2011. Certa vez um entrevistador pediu para que Zizek contasse um segredo e sem titubear ele cochichou: “o comunismo vencerá”.  


Dicas

Leia "Às portas da revolução - Escrito de Lenin de 1917".
Não leia "Como ler Lacan".
Assista "Zizek!" online e com legendas em português clicando aqui.  





5 comentários:

  1. Interessante esse comentário,agora me interessei por esse filósofo...Valeu!

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    1. Que legal, Ronaldo. Caso realmente se interesse pela leitura e tiver alguma dúvida fique à vontade para entrar em contato: brozrezende@gmail.com

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  2. Gostei do texto (assim como do nome do Blog :-))

    Mas o que você achou do "A Visão em Paralaxe"?

    Abs !

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    1. Obrigado pelo elogio. Na minha opinião não está entre os melhores do Zizek mas tem o mérito de discutir o materialismo histórico.

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  3. Boa Broz!
    Acho que o Zizek é o comunista menos comunista que eu ja conheci hahahaha!
    Voce ja leu "No fim dos tempos"? Ele meio que narra o fim dessa modernidade tradicional, é bem interessante!
    Um abraço
    Ian.

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