terça-feira, 9 de julho de 2013

São tempos de guerra civil permanente

*Por Pedro Diaz

“A essência da maturidade humana é a capacidade de viver com
verdades relativas, com perguntas para as quais não há resposta
e com as paradoxais incertezas da existência.” 
Paul Watzlawick

São tempos de uma guerra civil mundial permanente, endêmica e aberta, moderada e violenta, por dentro e por fora das guerras localizadas e mundiais. Pelo século XX e XXI, o que se verifica é essa revolução social permanente, subjacente as mais diversas formas de integração e fragmentação, acomodação e contradição, sempre em classes, grupos técnicos, de gêneros, religiosos, etc. Transbordam as fronteiras nacionais, avançando além de fronteiras continentais.

Esse é o mundo com o qual se forma o novo ciclo de expansão e transformação do capitalismo, constitui o globalismo, o novo palco da história, no qual se confrontam o neoliberalismo, o nazi fascismo e o neo socialismo. A mesma fábrica global, ou máquina do mundo, com a qual se forma a sociedade civil mundial, compreende estruturas mundiais de poder e configura a globalização pelo alto. Ai se fermenta um novo ciclo da revolução burguesa, simultaneamente com um novo ciclo da revolução socialista, vistas como revoluções mundiais. Paulatinamente uns e outros são desafiados a reconhecer que participam dessa mesma fábrica ou máquina. Indivíduos e coletividades, classes e grupos sociais, povos e nações, cultura e civilizações, em diversos arranjos, mesclam-se, integram-se, tencionam-se e se confrontam.

A expansão democrática no pós-guerra, repressão nos anos 1960, as lutas de resistência reaparecem nos 1970 e se tornam política alternativa de massas nos 1980, foi desarticuladas pela recomposição social e técnica e pela força política da reestruturação capitalista neoliberal global nos anos 1990. Mas no novo século cabe refazer a pergunta sobre os limites e a possibilidade do agir coletivo e da cidadania, circunscritas nas megacidades.

A crise orgânica global, dos padrões de produção e consumo, apresenta um grau de violência que se projeta no endividamento e na exclusão sócio-espacial. O protesto social transborda na razão inversa das chamadas pseudo políticas, dos factóides e das falsas necessidades, seus limites e formas podem se redefinir na medida em que se reforça a cultura de direitos.

Aos poucos, ou de repente, abalam-se os quadros sociais e mentais de referência de uns e outros, em todo o mundo. Todos são desafiados a re-situar-se no novo mapa do mundo. As forcas produtivas e as relações de produção, em moldes capitalistas, desenvolvem-se intensiva e extensivamente por todo o mundo, rearticulando e fortalecendo as redes e teias sistêmicas, tanto quanto acentuando e generalizando processos de desarticulação e fragmentação, também em escala mundial.

Tudo que é sólido e estável se volatiliza, tudo o que é sagrado é profano, e os homens são finalmente obrigados a encarar com sobriedade e sem IILUSÕES sua posição na vida e suas relações recíprocas. Tal processo de DESENCANTAMENTO do mundo adquire novos desenvolvimentos de ciência e técnica, culturais e sociais, econômicas e politicas, sempre margeando ou permeando, resistindo ou utilizando a lógica do capital.

Quando o trabalhador se aproxima de seu produto final, revela-se também o produto material ou espiritual do próprio trabalhador, como individuo e coletividade, dando espaço a outras formas de sociabilidade e forcas sociais. Lutam e reivindicam a “globalização desde baixo”, democratização dos processos globalizantes, eliminar desigualdades sociais e possibilidades para autodeterminação. Começamos a enxergar a multidão como não definida por ideologias isoladas, mas como uma comunidade em sua multiplicidade e multiculturalismo.

O desenvolvimento da técnica dispôs a ciberpolítica e a ciberdemocracia a se relacionar com a constituição do espaço público, palco de mobilização e ocupação das ruas. A periferia vai ao centro e a explosividade e a violência real e simbólica se apresentam como um dos desafios do contra-espetáculo. Os dilemas para os agentes, dos discursos da ordem e para a auto-organização da multidão definem parte das questões éticas ligadas a uma superação da cultura do medo e do fascismo social.

A questão é a da politização da cultura de direitos versus o autoritarismo, a alienação e a segregação. A autonomia e a autogestão são concepções que se fortalecem, já que a era das redes coloca instrumentos técnicos e organizativos poderosos para avançar na direção de uma outra economia, de outra articulação entre a distribuição dos recursos, formas de poder, formas de propriedade e modos de implementação das políticas públicas.

A formação e o desenvolvimento da sociedade civil mundial deparam-se com o desafio de voltar a considerar as condições e possibilidades de realização da democracia politica e social. O que tem sido realizado precariamente no âmbito da sociedade nacional recoloca-se como objetivo e ideal, ou possibilidade e tragédia, no âmbito da sociedade mundial.


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