*Por Pedro Diaz
“A
essência da maturidade humana é a capacidade de viver comverdades relativas, com perguntas para as quais não há resposta
e com as paradoxais incertezas da existência.”
Paul Watzlawick
São tempos de uma guerra
civil mundial permanente, endêmica e aberta, moderada e violenta, por dentro e
por fora das guerras localizadas e mundiais. Pelo século XX e XXI, o que se
verifica é essa revolução social permanente, subjacente as mais diversas formas
de integração e fragmentação, acomodação e contradição, sempre em classes,
grupos técnicos, de gêneros, religiosos, etc. Transbordam
as fronteiras nacionais, avançando além de fronteiras continentais.
Esse é o mundo com o qual se forma o novo ciclo de expansão e
transformação do capitalismo, constitui o globalismo, o novo palco da história,
no qual se confrontam o neoliberalismo, o nazi fascismo e o neo socialismo. A
mesma fábrica global, ou máquina do mundo, com a qual se forma a sociedade
civil mundial, compreende estruturas mundiais de poder e configura a
globalização pelo alto. Ai se fermenta um novo ciclo da revolução burguesa,
simultaneamente com um novo ciclo da revolução socialista, vistas como
revoluções mundiais. Paulatinamente uns e outros são desafiados a reconhecer
que participam dessa mesma fábrica ou máquina. Indivíduos e coletividades,
classes e grupos sociais, povos e nações, cultura e civilizações, em diversos
arranjos, mesclam-se, integram-se, tencionam-se e se confrontam.
A expansão democrática no
pós-guerra, repressão nos anos 1960, as lutas de resistência reaparecem nos
1970 e se tornam política alternativa de massas nos 1980, foi desarticuladas pela recomposição social e técnica e pela
força política da reestruturação capitalista neoliberal global nos anos 1990.
Mas no novo século cabe refazer a pergunta sobre os limites e a possibilidade
do agir coletivo e da cidadania, circunscritas nas megacidades.
A crise orgânica global, dos padrões de produção e consumo,
apresenta um grau de violência que se projeta no endividamento e na exclusão
sócio-espacial. O protesto social transborda na razão inversa das chamadas
pseudo políticas, dos factóides e das falsas necessidades, seus limites e
formas podem se redefinir na medida em que se reforça a cultura de direitos.
Aos poucos, ou de repente, abalam-se os quadros sociais e
mentais de referência de uns e outros, em todo o mundo. Todos são desafiados a
re-situar-se no novo mapa do mundo. As forcas produtivas e as relações de
produção, em moldes capitalistas, desenvolvem-se intensiva e extensivamente por
todo o mundo, rearticulando e fortalecendo as redes e teias sistêmicas, tanto
quanto acentuando e generalizando processos de desarticulação e fragmentação,
também em escala mundial.
Tudo que é sólido e estável se volatiliza, tudo o que é
sagrado é profano, e os homens são finalmente obrigados a encarar com sobriedade
e sem IILUSÕES sua posição na vida e suas relações recíprocas. Tal processo de
DESENCANTAMENTO do mundo adquire novos desenvolvimentos de ciência e técnica,
culturais e sociais, econômicas e politicas, sempre margeando ou permeando,
resistindo ou utilizando a lógica do capital.
Quando o trabalhador se aproxima de seu produto final,
revela-se também o produto material ou espiritual do próprio trabalhador, como
individuo e coletividade, dando espaço a outras formas de sociabilidade e
forcas sociais. Lutam e reivindicam a “globalização desde baixo”,
democratização dos processos globalizantes, eliminar desigualdades sociais e
possibilidades para autodeterminação. Começamos a enxergar a multidão como não
definida por ideologias isoladas, mas como uma comunidade em sua multiplicidade
e multiculturalismo.
O desenvolvimento da técnica dispôs a ciberpolítica e a
ciberdemocracia a se relacionar com a constituição do espaço público, palco de
mobilização e ocupação das ruas. A periferia vai ao centro e a explosividade e
a violência real e simbólica se apresentam como um dos desafios do
contra-espetáculo. Os dilemas para os agentes, dos discursos da ordem e para a
auto-organização da multidão definem parte das questões éticas ligadas a uma
superação da cultura do medo e do fascismo social.
A questão é a da politização da cultura de
direitos versus o autoritarismo, a alienação e a segregação. A autonomia e a
autogestão são concepções que se fortalecem, já que a era das redes coloca
instrumentos técnicos e organizativos poderosos para avançar na direção de uma
outra economia, de outra articulação entre a distribuição dos recursos, formas
de poder, formas de propriedade e modos de implementação das políticas
públicas.
A formação e o desenvolvimento da sociedade civil
mundial deparam-se com o desafio de voltar a considerar as condições e
possibilidades de realização da democracia politica e social. O que tem sido
realizado precariamente no âmbito da sociedade nacional recoloca-se como
objetivo e ideal, ou possibilidade e tragédia, no âmbito da sociedade mundial.
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